
Na quinta-feira fiz uma viagem de trem diferente.
Senhores passageiros, esse trem tem como destino todas as estações. Desejamos a todos uma boa viagem!
Ah! Os assentos com indicação são de uso preferencial. Respeite esse direito.
Na quinta-feira fiz uma viagem de trem diferente.
Eu fico olhando os pés de ameixa, amarelos que estão de tão carregados, na beira da linha na estação de Presidente Altino e minha boca enche d’água. As ameixas me fazem lembrar da infância, quando o quintal era diferente do que é agora e a nossa ameixeira ainda ficava de frente para a porta da cozinha. Ela vivia carregada como essas da estação, e nós vivíamos debaixo dela. Ao mesmo tempo em que saboreávamos, brincávamos. A minha balança de corda e tábua ficava amarrada naqueles galhos, e lá podíamos voar bem alto.
Parece que leram meus pensamentos. Outro dia vi dois funcionários da CPTM parados embaixo delas sentindo esse gosto de interior que só quem já viveu sabe. De um pé ao outro eles iam experimentando, tão amarelinhas, as ameixas que eu fico namorando de cima da plataforma. Um deles foi mais longe, queria as do alto. Não pensou duas vezes: agarrou-se nos galhos e subiu, sumiu por entre as folhas e lá ficou, se mexendo e se deliciando com as ameixas maduras em meio a um lugar que, sem elas, parecia tão frio e impessoal. De repente, ficou parecendo o quintal de casa, naquele tempo...
Poucos dias depois, vi que não é só minha e do pessoal da CPTM a vontade das ameixas. Três moços que acabavam de chegar à estação, de frente para as ameixeiras, manifestaram a mesma vontade. “Vamos lá comer ameixa? Olha quantas!”. Eles já estavam quase pulando para a linha. Irresistível mesmo! Um pé já estava pendurado para o lado de fora do concreto. Queria eu seguir esse impulso... mas nem eles seguiram, e assim como eu, ficaram na vontade, intimidados pela presença do azulzinho (o guarda da estação), que olhava de longe. Sim, seria uma infração pular, mesmo que seduzidos pelas ameixas simplesmente, mas eu garanto que ele entendeu aquela vontade.
O trem chegou. Mais uma vez vou embora com a lembrança do gosto de ameixa na boca e no coração. E elas, amarelas, despedem-se, saborosas e poéticas, de quem olha pela janela. Os trens da capital carregam mais pessoas do interior do que se imagina.
“Atenção:
Estamos aguardando ordem de partida do centro de comandos devido avarias em material rodante”.
O céu deve estar muito congestionado mesmo. Só pode ser!
Os homens estavam mais medrosos, mais covardes diante do bicho de penas. Menos um. Quando a coitadinha tentou sair pela janela, acabou batendo e parou no beiral do vidro. Ele, que tudo via lá da ponta, de camarote, e ria e se escandalizava em silêncio com o burburinho barulhento no resto do vagão, pegou a pombinha nas mãos e esperou que o trem parasse na próxima estação. Viva!!! Liberdade para a pomba... alívio para os usuários.
" Estação Sé, desembarque pelo lado esquerdo do trem".
(Desconheço autoria)
A partir do momento em que entram no trem e se acomodam, todas as pessoas tornam-se displicentes. Todas entregam os pensamentos ao acaso, cada qual com sua direção particular, íntima, passam a divagar, pensamentos soltos em algum lugar, apenas com o corpo avolumado em algum dos cantos dos vagões. E no pouco espaço de sempre, os passageiros inventam o seu canto na medida do que é possível, encontram um local para recostar a cabeça e poder soltar a mente.
Quem senta tem o privilégio de não precisar se encaixar em cantos, apenas adaptar as pernas dobradas em meio às pernas esticadas daqueles que vão em pé, apoiados uns nos outros e nos ferros de segurança. Mas todos, sem exceção, nem mesmo os acompanhados, escapam desse feitiço de trem que leva todos a perderem-se dentro de si mesmos, imersos em seus pensamentos. O rumo não, este não se perde, mesmo quando o retorno é brusco, já parado na estação, sempre dá tempo de descer e voltar à rotina das idéias externas, comuns demais.
Felizes são os que conseguem o predileto e sagrado lugar da janela, o mais cobiçado. Mas esses são poucos e para poucos. Só quem chega primeiro ao trem tem a sorte de sentar-se à beira da paisagem, seja ela feia ou bonita. E isso realmente não importa. Os primeiros lugares a serem ocupados são esses, do canto, que oferecem a quem ali se senta a sensação de estar um pouco mais distante dos demais, um pouco mais reservado, um pouco mais sozinho. O passageiro e a janela. O ar que vem lá de fora, o céu sempre disponível, o infinito. A paisagem que acompanha a viagem parece bem mais amiga daqueles que se sentam na janela, mais próxima, tão maior e sugestiva.
E perdido em devaneios fica até mais fácil reparar certos elementos que passam despercebidos na maior parte do tempo em que se está atento. O desenho das nuvens, as cores que se misturam no céu nos finais de tarde, a variação do verde plantado atrás dos muros, a sonolência das cidades e as luzes de fim de dia que brilham na volta para casa. E tudo isso colabora para a viagem interior que acontece nos trens enquanto se aguarda o destino final. Seja para começar ou terminar o dia, é sob esse efeito que os passageiros de trem vão, mesmo quando lêem, mesmo quando dormem, mesmo quando conversam. É sagrado o momento de distração que faz com que todos fiquem com os olhares perdidos, mergulhados em algo que apenas cada um sabe o que é, porquê e como.
Parece que todos os sentidos se desligam, não há barulho, não há odores, não há visão, nada. Nem a disposição ou a preguiça da manhã, muito menos o cansaço da noite, exercem um poder tão profundo nos usuários do trem quanto esse ar oculto que envolve as pessoas lá dentro e é ainda mais intenso perto da janela. Ela é o alento, o cenário, a escapatória para quem ainda tem de esperar pelo destino, mas voa longe, longe, janela afora.
As campanhas contra a Dengue intensificam-se em todos os segmentos, ainda mais nessa época do ano, quando o calor intenso colabora para a reprodução do inseto. No Trem não poderia ser diferente. Aliás, ainda mais no Trem, onde é jogada uma quantidade absurda de lixo, diariamente. Esse é um dos problemas desse meio de transporte. Ou melhor, de seus usuários.
O brasileiro não tem consciência ambiental. Sabe-se dos perigos do aquecimento global, da escassez da água, do desmatamento e outros problemas, mas não há ação efetiva vinda do povão mesmo, que poderia colaborar consideravelmente nessa luta. Mas as questões básicas como não saber gerenciar seu próprio lixo é coisa grave e muito feia. A coisa mais comum é ver lixo descartado de forma indiscriminada Por esses Vagões.
Tanto marreteiros quanto usuários fazem da “Lata com rodas” uma verdadeira lata de lixo ambulante. As embalagens de tudo que é consumido dentro do Trem acabam sendo jogadas debaixo dos bancos, pelas janelas ou nos vãos das plataformas. Vendedores, ao abrir novas caixas de mercadoria, simplesmente desembalam e jogam no chão, sem nenhum constrangimento. Mães ensinam suas crianças, desde pequenas, a gerenciarem seu lixo de forma errada. A criança, quando está com o papel da bala, do sorvete, do salgadinho nas mãos, pergunta o que fazer e as mamães incentivam a jogarem janela afora. Muitas pessoas, com nível superior até, ao terminarem de comer, jogam, disfarçadamente, o lixo embaixo do banco onde estão sentadas.
Imagine o caso da Paçoquinha... Como dizem os marreteiros: “Uma é dez e dez é um”. Ou seja, com R$1,00 você compra dez paçoquinhas. Agora imagine a embalagem dessas dez paçoquinhas sendo jogadas no chão ou pela janela por cada um que as comprar. Infernal, não? Pois acredite, isso acontece!
Ora, eu não sou obrigada a ficar no meio da sujeira porque as pessoas não sabem gerenciar seu próprio lixo. E a ação, além de feia e nojenta, demonstra a falta de consciência com relação ao meio ambiente. Da falta de noção de que, se cada cidadão que está dentro do trem jogar um papel de bala durante a viagem, tanto o veículo quanto seus arredores, tornar-se-ão intransitáveis. Há quem limpe, claro, mas o desastre está naquilo que não se pode alcançar – incluindo aí a mentalidade do brasileiro.
Como se não bastasse, em muitos locais onde o trem passa, existem casas em estado precário que, construídas à margem da ferrovia, fazem de sua extensão um imenso lixão a céu aberto. Pessoas que não administram a sujeira que produzem e não entendem as consequências danosas que aquilo pode causar ao meio ambiente. Com isso, o odor fica estragado, ratos proliferam – fazendo proliferar também as doenças e epidemias -, o lençol freático pode comprometer-se e o visual é totalmente degradado, entre outros males.
E a Dengue com isso? Bem, cada detrito descartado de forma irresponsável pode se tornar um criadouro do inseto maligno. Tanto daquilo que voa pelas janelas do Trem, quanto ao que é descartado na beira da ferrovia pelas casas e transeuntes. Tudo acaba virando foco da Dengue.
Megaoperação CPTM – o interesse é de todos
A assessoria de imprensa da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) divulgou que desde o dia 30 de março de 2007 a empresa vem realizando uma megaoperação contra a Dengue. Trata-se de uma iniciativa que visa recolher todo o tipo de material reciclável “jogados ao longo dos 270 Km de vias da companhia e que podem se transformar em potenciais criadouros do mosquito Aedes Aegypt”. Com isso, ao menos uma vez por semana haverá um mutirão organizado pela CPTM para recolher a “lixaiada” que se acumula nas linhas e arredores. Já que são recicláveis, todo o material recolhido será doado a uma instituição de caridade.
Como é do interesse de todos que os focos da Dengue sejam destruídos, seria de bom grado contar coma ajuda da população. Não precisa muito, basta que se aprenda que lugar de lixo é no lixo. Isso já ajudaria bastante!