quarta-feira, 27 de junho de 2007

De carona


O céu deve estar muito congestionado mesmo. Só pode ser!

Sem opção, bichinhos voadores acabam optando por outro meio de transporte, algo que os leve até uma parte de seu caminho sem surpresas desagradáveis. Neste caso, o trem é uma boa opção, pelo menos na linha do trem não há congestionamento. Será?

Outro dia uma pomba entrou no trem em movimento. Teria ela sido engolida pela pressão do ar, o mesmo ar que divide com tanta coisa estranha? Ou estava passando, distraída, e, quando viu, estava dentro do vagão? Ou então tinha mesmo a intenção de descansar as asinhas, pegando carona?

Se a resposta escolhida for a da última opção, definitivamente a pombinha não conseguiu descansar as asas. Aliás, as cansou muito mais, e deixou, de brinde, algumas penas para trás.

Perdida dentro do vagão, a pomba voava desesperada, mas as pessoas lá dentro deram um show de histerismo. Mulheres sim, mas pior: os homens também! Todos se apavoravam quando o bichinho desnorteado se aproximava, tentando achar um cantinho para pousar e entender o que estava acontecendo.

A agitação das pessoas fazia com que a pombinha se movimentasse ainda mais rápido pelos corredores do trem, atrapalhada, desmantelada. Houve um momento em que parou no ferro, como se fosse o galho de uma árvore, e ficou, enquanto quem estava embaixo se encolhia. Ela levantou vôo novamente. E as pessoas gritaram novamente.

Uma cena destas é cômica, verdade! Mas também dá vergonha. Pôxa, é apenas uma pomba! Uma pombinha, símbolo da paz, que entrou no lugar errado. Quem deveria estar mais apavorado? Os passageiros ou a pomba?

Os homens estavam mais medrosos, mais covardes diante do bicho de penas. Menos um. Quando a coitadinha tentou sair pela janela, acabou batendo e parou no beiral do vidro. Ele, que tudo via lá da ponta, de camarote, e ria e se escandalizava em silêncio com o burburinho barulhento no resto do vagão, pegou a pombinha nas mãos e esperou que o trem parasse na próxima estação. Viva!!! Liberdade para a pomba... alívio para os usuários.

Ontem foi a vez de uma borboleta. Se eu tivesse uma máquina fotográfica na hora, registraria a presença do bichinho tão delicado e colorido no ferro da porta do trem, do lado de dentro, como quem vai encostado olhando a paisagem. Quando entrou assustou um pouco, mas depois só atraiu olhares silenciosos, talvez até de contemplação. Para nós, a paisagem era ela, de carona em nosso vagão no meio da tarde.

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