quarta-feira, 7 de maio de 2008

Rostos



(para aliviar um pouco a hostilidade que a CPTM nos causa)

Rostos


Para dentro do que olham esses rostos?

No que pensam esses olhares perdidos?

A mistura de feições dentro de um vagão de trem me leva a uma viagem por aquelas marcas de expressão. Percorro rugas, sinais de cansaço e até mesmo o liso das peles mais joviais. Sorrisos contidos, sorrisos declarados, sorrisos escondidos, sorrisos sufocados, sorrisos perdidos, sorrisos soltos, sorrisos...

Escondidas mesmo estão as lágrimas que devem rolar em cada uma dessas histórias, libertas em casa, no quarto, ou nem mesmo lá, só na alma. Fora essas gotas de sentimento, quantas coisas mais há dentro desse universo que habita em casa/corpo!

Reparo na distância de pensamento que paira sobre cada um daqueles rostos depois de um certo tempo de viagem. As horas do dia que se acabou ainda estão lá, a rotina, o estar acostumado tomam conta dos semblantes, geralmente nesse mesmo horário, todos os dias.

Uns dormem, realmente se entregam aos encantos de Morpheu. Outros fingem. Outros apenas meditam, pensam, pensam, vão para longe, enquanto uns outros deixam claro que estão tentando esquecer. Nesse momento de observação, parece que a viagem acontece em câmera lenta. Lenta como as piscadelas, os bocejos e o ânimo de cada um.

Como terá sido o dia deles? Como será o chegar em casa para aqueles olhos negros, aquelas mãos calejadas, aqueles pés ao relento, aqueles cabelos encaracolados, aqueles olhos cerrados? Como será que eles vêem o dia de amanhã?

São cheias de beleza essas janelas de pele e poros – quanta história aberta e quantas que nunca serão sequer descobertas, contidas em um mesmo ser! Olhos de maldade, de malícia, de bondade, de sorriso, de vazio, de intensidade se misturam, indo e vindo, no mesmo balanço de trem.

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